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CONTO 02 - PART 01

  • Foto do escritor: Laiza Machado
    Laiza Machado
  • 14 de abr. de 2017
  • 3 min de leitura

Já se tinham ido cinco copos de cerveja e aquela maldita dose cor-de-rosa. Amnésia, chamava. Parecia um suco de tutti-­frutti servido em um copo transparente, de plástico, desses que se acha em qualquer bar. Era para embriagar ao primeiro gole de tanto álcool disfarçado de açúcar. Haja vista que a fila para ele era enorme e mexiam-se como macacos para banana esses aí. Mal tomei a dose e me lancei ao andar de baixo do bar para dançar um pop punk tocado de uma cabine tosca. Não tinha mais nada para fazer naquele sábado que não ficar bêbada e dançar até meus pés serem comidos pelo definhamento da sola. Uma boa transa seria um presente. Mas a verdade é que não pensava nisso. Quando você termina um relacionamento longo tende a agir de duas maneiras: ou fode, ou não fode. Eu não estava escolhendo nem um, nem outro. Mas a verdade é que não achava que conseguiria deixar minha boceta molhada por alguém dali. Isso até vê-lo no meio da pista.

Dançava desengonçadamente uma dessas músicas de bandas de festival. Metia a mão na cara com ares de quem já estava bem alcoolizado e se perguntava o que fazia ali. Não tinha nada muito especial. Cabelos ondulados. Barba. Camiseta solta. Casaco amarrado na cintura. Mas era uma bela combinação humana para um homem. O mirei e não disfarcei que parei o que estava fazendo para o encarar. Ao tirar a mão do rosto limpando o suor e respondendo “não sei” as perturbações mentais, ele também me notou. E ficamos os dois a se olhar distante como caça e caçador, sabendo que um poderia muito bem comer o outro ali. Adiantaria o passo para perto, não fosse aparecer outra fêmea que o notara e lhe tirasse um beijo. Ele mal retira os lábios dela e me fita. Voltando-se em seguida para ela. Que grande merda. Sem foda hoje, pensei. Segui bebendo. Não tinha paciência para essas coisas e perder tempo com vadios acompanhados era uma dor de cabeça de bordel. Desprendi-me a dançar. Outros copos. Outras doses. Fui ao palco. Deus me livre uma vida sem isso, repetia a mim, abraçando outros dali e cantando em um inglês enrolando algumas da década de 90. Não costumo ter muito equilíbrio quando fico bêbada. O que complica quando somo isso a flexibilidade que ganha meu corpo com álcool. Àquela altura, madrugada a dentro, sabia que estava em ar de plumas. Ah, amnésia. Achei uma das meninas com quem havia entrado no bar com aquele doce rosa. Tomo outros goles. Deus, estava feliz demais. O palco já virava minha casa. Cantava para a plateia como se fizesse um show. Nem parava para raciocinar a lógica disso. É uma coisa que só fazia. E era até mágico. Não precisava ter razão. Para dez reais, aquela festa parecia a melhor do mundo. Ali de cima mirei as pessoas e vi o da barba, cabelos enrolados, casaco na cintura. Estava só. A fêmea havia ido e eu iria chegar. Não tinha visto outros caras interessantes e minha boca pedia outra boca. Estava farta de cerveja.

– Você está sozinho? – Que merda de pergunta! Gritei comigo assim que o abordei desse jeito, trazendo sua atenção para mim. Poderia ter falado tantas coisas, ou não ter falado nada. Achei ridículo.

Mas ele respondeu:

– Te vi desde que cheguei – e falou coisas mais que nunca saberei dizer o que foram. Só aproveitei que estava perto do meu ouvido e me aproximei mais, colocando uma das minhas mãos envoltas do seu pescoço e deixando suas mãos envolverem minha cintura. Sorri olhando sua boca se movendo e falando coisas que não interessavam para mim. O beijei.

Cristo! Após dois anos beijando a mesma boca, encontrar outros lábios fazem de você uma virgem. Deixei que sua boca guiasse a minha até encaixarmos nossa língua numa dança de salivas. Ele puxou-me mais para perto. Caralho, estava me excitando. Solto sua boca. Olho seus olhos. Sorrio. O beijo com força. Que tesão.

– Cara, quero te dar, mas to menstruada – anunciei.

– Vem para cima – disse, tomando-me pela mão e puxando-me para o andar superior.

Acima era bem escuro. Ambiente ideal. A foda que nem fazia questão poderia acontecer ali mesmo. E eu queria...

CONTINUA...


 
 
 

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